quinta-feira, 13 de abril de 2017

O duelo

O dia 13 de abril marca a data em que Miyamoto Musashi derrotou Sasaki Kojiro no famoso duelo entre os dois samurais na ilha de Funajima, em 1612.

Musashi já era um espadachin célebre. Tendo sobrevivido à violenta Batalha de Sekigahara ainda na adolescência, na qual lutou pelo lado derrotado, Musashi vagou pelo centro do Japão desenvolvendo sua técnica de luta. Ele já havia derrotado espadachins famosos ainda jovem, e derrotou sozinho toda a escola Yoshioka de artes marciais, em Kyoto - diz-se que, após derrotar dois dos irmãos Yoshioka, o terceiro armou uma cilada, da qual Musashi teve que derrotar-lo e abrir caminho entre os seguidores que haviam se escondido para matá-lo e fugir. Foi nessa ocasião em que ele desenvolveu seu estilo particular de luta com uma espada longa numa mão e uma curta na outra, conhecido atualmente como Hyoho Niten-ichi-ryu ("Escola de Estratégia dos Dois Céus em Um"), inédito no Japão. Nos seus duelos (que ele afirmava terem sido 60), ele costumeiramente usava uma espada de madeira - mesmo sem uma lâmina apropriada, frequentemente derrotava os desafiantes com apenas um golpe, às vezes fatal.


Kojiro emergiu como espadachin famoso ao derrotar vários oponentes usando uma nodachi, uma espada 20 cm mais longa que a katana usual, propagando também o nome da sua escola, Ganryu ("Estilo da Grande Rocha"). Ele teria desenvolvido a técnica com a nodachi para responder ao estilo do seu antigo mestre, Toda Seigen, que usava uma antiga kodachi, uma espada mais curta que uma katana, e teria deixado sua academia para fundar sua própria escola após matar o filho de Seigen em duelo. Sua espada era tão longa que ele a chamava "Varal", em alusão a altura do poste que se usava para pendurar roupas, e a lenda dizia que ele treinava abatendo pássaros em voo. Apesar do tamanho e do peso da arma (a nodachi era levada às costas, ao contrário da katana, que era presa à cintura), a sua velocidade era legendária. Em 1610 o daimyo Hosokawa Tadaoki o nomeou chefe-de-armas do seu feudo após ouvir que Kojiro derrotara três oponentes usando um leque. 

Musashi foi atraído pela reputação de Kojiro, e sugeriu por um intermediário ao lorde Hosokawa que organizasse um duelo. No dia marcado (13 de abril), Kojiro chegou à ilha Funajima, próximo ao porto de Shimonoseki, escoltado por seguidores. Musashi, que àquela altura já tinha fama de chegar atrasado aos duelos, fez o de costume, e desembarcou 3 horas mais tarde. Além do atraso, apareceu desarmado, o que ofendeu a entourage do oponente. Porém, durante a viagem, Musashi teria pego um dos remos reservas do barco e esculpido uma espada de madeira mais longa do que o Varal de Kojiro.

Quando desembarcou na ilha, Musashi ofereceu o primeiro ataque ao adversário. Kojiro teria tentado um golpe característico seu, a "cauda de pardal", um golpe de cima para baixo, seguido de um golpe no sentido contrário, rápido e preciso. Preciso o suficiente para arruinar o penteado de Musashi. Ele então ergueu sua espada esculpida e com um golpe só matou Kojiro com uma fratura no crânio. Uma versão diz que ele teria se esquivado até deixar o sol às suas costas, deixando Kojiro momentaneamente cego, e aproveitando-se para desferir o golpe fatal. Os apoiadores de Kojiro imediatamente acorreram para matá-lo, mas Musashi correu para o barco e fugiu da turba furiosa se aproveitando da maré que abaixava no momento. Uma teoria popular é que o atraso de Musashi teria sido calculado com base na maré para facilitar a sua fuga, uma vez que a ilha Funajima é plana e a baixa da maré abriria rapidamente espaço entre o barco e a ilha, e ele sabia que tentariam matá-lo caso vencesse. Outra teoria é de que Musashi teria esperado todo esse tempo para desestabilizar Kojiro, como fizera com vários outros adversários, e a baixa da maré teria sido uma providência fortuita.

Musashi, que também se tornou mestre de artes como a cerimônia do chá e a pintura, seguiu carreira servindo brevemente a outros senhores (ele se envolveu nas duas batalhas decisivas entre Tokugawa Ieyasu e as forças de Toyotomi Hideyori, novamente atuando pelo lado derrotado), e retirou-se na caverna de Reigando, onde escreveu seu derradeiro livro de estratégia, O Livro de Cinco Anéis, e faleceu, possivelmente de câncer, aos 61 anos. Até hoje é um personagem evocado em motivos nacionalistas - um dos dois super-encouraçados da marinha japonesa na Segunda Guerra Mundial (os maiores e mais pesadamente armados navios de guerra construídos até então) foi batizado com seu nome.

Esse é também o clímax da novela Musashi, de Eiji Yoshikawa, que ao longo de 7 volumes (dois gigantescos na edição brasileira) constrói a rivalidade entre os dois espadachins ao ponto em que o duelo é inevitável - o popular mangá Vagabond baseia-se na narrativa proposta por Yoshikawa com algumas liberdades. A ilha de Funajima, hoje conhecida como Ganryujima em memória a Sasaki Kojiro, é um ponto turístico de Shimonoseki acessível de balsa, onde encontra-se uma escultura em tamanho real dramatizando o célebre combate (que reproduz os oponentes com tanto realismo que a própria pegada invertida, que era o segredo do estilo de Kojiro, pode ser vista), uma espécie de "túmulo" onde as pessoas rezam por Kojiro (embora ele não esteja sepultado ali), monumentos, trechos de poemas e gravuras.

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