terça-feira, 2 de junho de 2015

Os vândalos saqueiam Roma

Em 2 de junho de 455 d.C., os vândalos do rei Genserico iniciam um saque à cidade de Roma.

Décadas antes, os vândalos eram uma das tribos germânicas que, forçadas pelo avanço dos hunos na Europa Central (eles viviam na Panônia, atual Hungria, onde os hunos "escolheram" morar), se atiraram sobre as fronteiras do Império Romano, na Gália. Em seguida, eles rumaram para o sul, cruzaram os Pirineus e se estabeleceram na Espanha. Sob o rei Genserico, os vândalos, inflados em número por uma parte da tribo dos alanos, deixaram a Espanha e invadiram a província da África (que incluía Tunísia, parte da Argélia e norte da Líbia), tomando também a Sicília, a Sardenha, a Córsega, e as lhas Baleares e estabeleceram um reino naquela região do Mediterrâneo. A incapacidade do quase exaurido Império em retomar seus territórios forçou o imperador do ocidente Valentiniano III a prometer em casamento sua filha Eudócia ao herdeiro de Genserico, Hunerico, assegurando a paz entre os dois.

Em 454 ou antes, um influente senador e administrador público chamado Petronius Maximus teria perdido uma aposta contra o imperador, dando como garantia do pagamento seu anel de casamento. Valentiniano se aproveitou da situação para violentar a esposa de Petronius, a quem desejava. Ao saber do caso, o senador teria jurado vingança. Para isso, maquinou a morte do homem forte do imperador, Aécio, notável diplomata e general que havia contido a invasão de Átila, o Huno, anos antes, sugerindo a Valentiniano que ele seria um conspirador. Após a morte de Aécio, sob a promessa de recompensa, um dos soldados designados para a escolta de Petronius assassinou Valentiniano durante uma visita sua ao Campo de Marte. Ao final do dia, Petronius foi proclamado imperador.

Isso causou uma reviravolta na relação de Roma com os vândalos. Para assegurar sua posição e um sucessor, Petronius Maximus arranjou o casamento entre seu filho Palladius e a mesma Eudócia (a esposa de Valentiniano, Licínia Eudoxia, tenha grande influência política que precisava ser neutralizada). Genserico, ao saber, declarou que isso invalidava o acordo de paz entre os dois, e inflou velas para atacar a Itália. Petronius governava o Império do Ocidente havia dois meses. Quando soube da expedição vândala, Maximus desistiu de organizar as defesas da cidade (ele esperava um grande destacamento de Visigodos vindos da França, que não chegava) e tentou fugir. Mas foi apedrejado até a morte por uma turba furiosa do lado de fora da cidade, provavelmente também em fuga. No mesmo dia, o exército de Genserico desembarcou na Itália.

Alguns dias depois, os vândalos apareceram às portas de Roma. Boa parte dos seus habitantes haviam fugido, e a cidade estava praticamente desguarnecida. O Papa Leão I, a principal autoridade romana presente, e cuja diplomacia também foi importante contra Átila, implorou pessoalmente a Genserico para que os habitantes não fossem mortos e a cidade não fosse incendiada. Aparentemente Genserico teria concordado com isso, e a partir daí os vândalos tomaram Roma, pilhando tudo que podiam carregar durante duas semanas. Em um certo momento, já não havia mais nada de valor que pudesse ser levado, e os vândalos se entregaram à destruição sem sentido, derrubando símbolos de poder como templos, estátuas e colunas. A infraestrutura da cidade, porém, foi poupada.

Ao final desse tempo, com poucas mortes e destruições por fogo (mas enormes espólios e carregamentos de escravos), os vândalos se retiraram de volta para a África. Genserico reinaria vigorosamente por mais 22 anos sobre os vândalos em Cartago até sua morte, aos 88, sucedido pelo seu filho (que, afinal, se casara com Eudócia). Mas o reino visigodo não duraria muito, e em 80 anos já não existia mais. O Império Romano do Ocidente resistiria ainda menos. Mas a violência deste saque específico (houveram outros antes e depois, e muito piores do que este) ficou permanentemente registrada no imaginário ocidental. "Vândalos" e "bárbaros" se tornaram sinônimos entre si por muito tempo, e sinônimos de violência despropositada até hoje. "Vandalismo" está presente no nosso léxico como o ato de depredar ou destruir propriedade pública.

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