segunda-feira, 29 de junho de 2015

As mortes de Rasputin

Em 29 de junho de 1914, uma moça chamada Khioniya Guseva, possivelmente com problemas mentais, tentou assassinar Grigori Rasputin na sua aldeia natal, na Sibéria. Mal sabia ela que o tal Rasputin era um sujeito difícil de se matar.

Rasputin surgiu na cena política da Rússia imperial logo após a derrota russa na guerra Russo-Japonesa de 1905. Com uma reputação de homem santo, Rasputin foi apresentado pela primeira vez ao Tsar Nicolau II. Em 1906 ele teria visitado a vida da filha do Primeiro Ministro, cujos filhos morreram num atentado recente, o que lhe teria trazido grande conforto. Em 1907, ganhou o favor do Tsar ao supostamente curar o príncipe Alexei da sua hemofilia com poderes espirituais (seja lá o que fez não o curou propriamente, mas o ajudou de alguma forma a superar várias crises que poderiam ter sido fatais). A partir de 1914 ele se tornaria a voz mais influente da corte imperial, e, com o Tsar à frente do exército contra a Alemanha, a posição de Rasputin se tornou mais central do que nunca. Ele era um camponês da Sibéria com pesado sotaque, que não cortava o cabelo, não fazia a barba, não tomava banho, e tinha a família imperial nas mãos. Isso suscitou muitas rivalidades.

O caso de Guseva foi pontual. Fascinada por figuras religiosas, ela teria se tornado seguidora do monge Iliodor, um inimigo público de Rasputin e uma das fontes que, por exemplo, sugeriam seu relacionamento amoroso com a Tsarina Alexandra. Guseva o teria seguido por alguns meses até localizá-lo na sua aldeia natal, onde visitava sua família. Ela o atacou enquanto estava lendo um telegrama do lado de fora de uma agência de correios, perfurando seu abdômen com uma lâmina de meio metro de comprimento. Embora ela tivesse gritado "Matei o Anticristo!", Rasputin conseguiu se recuperar e fugiu correndo, tendo ainda disposição para pegar um pedaço de pau e golpear o rosto da agressora. Embora as agências de notícia da época tenham-no dado como morto, ele foi operado naquela noite, se recuperando depois de alguns meses. O monge Iliodor, que nada teve a ver com o atentado, fugiu para a Noruega disfarçado de mulher.

As circunstâncias do assassinato de Rasputin em 1916 são nebulosas, já que a polícia foi praticamente impedida de investigá-lo, pois, aparentemente, pessoas importantes estavam envolvidas. Além disso, grande parte da documentação foi destruída pelos soviéticos. O que se sabe hoje é a coleção de estudos feitos ao longo dos anos baseado em depoimentos e reportagens de época, fotos do corpo e pesquisa de documentos. Mas tudo converge para uma sequência impressionante de acontecimentos:

Rasputin teria sido convidado em dezembro a visitar Felix Yusupov, marido da sobrinha do Tsar, em seu palácio em São Petersburgo. Eles chegaram lá depois da meia noite e se acomodaram em sua adega. Primeiro Rasputin teria tomado chá com um pedaço de bolo contendo cianeto. Após saborear o doce (sua filha duvidava que ele tivesse comido o bolo, pois ele evitava doces desde que fora ferido no estômago), ele teria discutido com Yusupov sobre ocultismo, espiritualidade e política. O cianeto, que devia sufocá-lo em minutos, não surtiu efeito.

Como, de qualquer forma, Rasputin não dava sinais de intoxicação, o anfitrião então lhe ofereceu uma seleção de vinhos doces, que Rasputin passara a apreciar avidamente depois do seu atentado. Quando percebeu que o místico estava embriagado, Yusupov subiu as escadas e retornou com o revólver de um colega escondido no andar de cima (haveria uma meia dúzia de conspiradores escondidos no palácio naquela noite). Ele atirou à queima roupa no peito, a bala perfurando estômago, fígado e saindo do lado direito do corpo. Rasputin caiu sobre um tapete de urso branco. Com o tiro, os conspiradores teriam saído de seu esconderijo escada acima e deveriam estar discutindo o que fazer com o corpo.

Mas Rasputin não estava morto! Ele abriu os olhos e se levantou, ciente de que havia caído numa armadilha, e tentou fugir. Ele galgou as mesmas escadas, tentando sair da adega em direção ao jardim. Alarmado pelo barulho, um dos conspiradores apareceu e o alvejou mais uma vez, desta vez a bala se alojando na sua espinha. Ele caiu sobre a neve e foi arrastado de volta para dentro do palácio. Yusupov, nervoso, ainda chutou seu rosto a ponto de estourar um olho. Como o corpo ainda se movesse, um terceiro conspirador encostou o cano do revólver na sua testa e disparou.

A essa altura a polícia já estava questionando o que acontecia, e os assassinos precisavam se desfazer do corpo rapidamente. Eles o vestiram com seu casaco de peles, botas e luvas e saíram do palácio abraçados até o carro, para dar a impressão de que Rasputin saiu tão bem como entrou. Eles amarraram punhos e tornozelos e atiraram o corpo de uma ponte, mas seu casaco se encheu de ar, impedindo que ele afundasse.

O corpo foi encontrado dois dias depois, congelado, com as mãos desamarradas. É possível que Rasputin ainda tivesse retido alguma consciência e tentado escapar, para, depois de envenenado, baleado três vezes (inclusive na cabeça), espancado, amarrado, e jogado de uma ponte num rio congelado, morrer de hipotermia.

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