terça-feira, 16 de junho de 2015

As proezas do Sultão Murad IV

Em 16 de junho de 1612 nasceu Murad IV, o último sultão a seguir a tradição guerreira dos sultões otomanos.

Murad sucedeu seu tio, Mustafá I, um homem fraco de meia idade e com problemas mentais que era mantido no trono por uma facção de cortesãos sob o pretexto de ser o parente mais velho de seu irmão, Ahmed I. As últimas décadas antes da ascensão de Murad viram o Império Otomano descambar para a tirania de líderes locais, banditismo, e descontrole político e fiscal. Mustafá foi deposto quando o governador da cidade de Erzurum resolveu marchar para Istambul para vingar a morte de Osman II, um sobrinho de Mustafá que havia sido entronizado e assassinado durante seu reinado por causa de intrigas palacianas.

Murad era o irmão mais novo de Osman, e uma outra facção o elegeu o novo sultão. Ele tinha apenas 11 anos, e sua mãe assumiu a regência. Porém ela não foi capaz de debelar a corrupção e impor ordem no império A Pérsia havia tomado quase todo o atual Iraque quase sem resistência, e rebeliões internas pipocavam aqui e ali. Em 1632, um grupo de Janízaros - o corpo de elite do exército otomano, formado por garotos cristãos raptados ou "recrutados" nas províncias, criados como muçulmanos numa espécie de fraternidade, treinados e armados para serem absolutamente leais ao sultão - invadiu o palácio Topkapi, entrou no quarto do sultão e assassinou o Grão-Vizir. Murad, já um jovem adulto, resolveu que era hora de impor sua autoridade para deixar de ser um joguete e terminar como seu irmão Osman.

Ele começou a identificar e reprimir os que enriqueciam ilicitamente - sua repressão vinha na forma de humilhações públicas, prisões e execuções. Os militares foram disciplinados por meio de mais de 500 execuções, apenas de oficiais. Já os soldados que fossem vistos aceitando suborno deveriam ser executados na mesma hora, e não teriam sequer a dignidade de um enterro. O Grande Mufti, a maior autoridade da Lei Islâmica, teve o mesmo fim, assim como vários de seus parentes. Ele proibiu certas amenidades, como o consumo de álcool, tabaco e café, sob pena de morte - ele mesmo se encarregava de fiscalizar os estabelecimentos comerciais de Istambul, vestindo trajes civis. Ironicamente, o sultão era um amante de vinhos.

Murad, porém, devia ter muita dificuldade para se misturar: extraordinariamente forte, dizia-se dele que era um campeão na luta livre, conseguindo lutar contra sete oponentes de uma só vez. Apesar de exímio arqueiro e atirador, suas armas favoritas eram uma maça que pesava 60 quilos e ele empunhava com uma mão só, e uma espada gigantesca, pesando 50 quilos. Essas armas existem e estão expostas no Museu do Palácio Topkapi, em Istambul.

Em 1635 Murad se apresentou no front oriental, onde seu exército reestruturado tentava conter o avanço persa. Todo armado e paramentado, ele cavalgava com seus soldados, participava das batalhas, e acampava com eles, inspirando respeito e admiração. Assim ele retomou a Armênia e avançou até Tabriz, no atual Irã, retornando em triunfo a Istambul. Como seus comandantes não conseguissem manter os territórios, Murad voltou ao front três anos depois e tomou Bagdá, reassumindo controle otomano sobre todo o Iraque. O tratado de paz acordado em Zuhab em 1639 entre otomanos e persas praticamente definiu a fronteira ocidental do Irã com o Iraque e a Turquia como conhecemos hoje. A tomada de Bagdá também seria a última vez em que um sultão otomano participaria de uma batalha.

Enquanto isso, o reino formado por Lituânia e Polônia entrou em guerra com a Rússia. Murad mandou o governador da Bulgária pilhar o que pudesse na Ucrânia, sob influência polonesa, enquanto ele mesmo pagava nômades tátaros para saquear Moscou. Quando a Polônia-Lituânia saiu vitoriosa e mandou embaixadores se queixarem da Murad quanto às pilhagens na Ucrânia, o sultão alegou que o governador, que havia traído seu pai anos antes, havia agido por conta própria e mandou matá-lo, a contento de seus novos aliados.

Anos de descontrole com a bebida - dizia-se que, bêbado, Murad corria pelas ruas da cidade nu, com espada em punho, atacando quem aparecesse pela frente - o levaram a contrair cirrose. À beira da morte ele teria ordenado a execução de seu irmão mais novo Ibrahim, que havia vivido quase toda sua vida em confinamento (ele teria sido executado com seus irmãos por Murad, se sua mãe não tivesse intervindo por conta de sua fragilidade física e mental). Se isso tivesse sido levado a cabo, toda a dinastia otomana teria morrido junto, pois Murad não deixara filhos homens, e isso deve ter freado as mãos dos seus guardas. Ibrahim viveria para se tornar Ibrahim I ("O Louco"), sob cujo reinado - grandemente influenciado por cortesões e pelo seu harém - o Império mergulhou novamente no caos. Ibrahim seria deposto e executado com o aval de sua própria mãe.

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