terça-feira, 23 de junho de 2015

Cesarion, o último faraó

Em 23 de junho de 47 a.C. nasceu Cesarion, filho de Cleópatra e Júlio César.

Cesarion nasceu após uma visita de Júlio César a Cleópatra, no Egito. A faraó havia assistido César durante a guerra civil contra os partidários de Pompeu, que terminaria assassinado enquanto buscava refúgio no Egito. Cleópatra sustentava que ele era filho de César - então cônsul e a figura mais proeminente de Roma, de quem o Egito se tornara um Estado-satélite. Nos seus primeiros dois anos de vida, ele e sua mãe viveram em Roma como convidados de César. O general romano, contudo, nunca assumiu a paternidade do menino, tendo já se comprometido em testamento com a adoção de seu sobrinho-neto Otaviano como seu herdeiro. Cesarion seria o primeiro e único filho biológico de César. Cleópatra retornou com ele rapidamente para o Egito, e o proclamou Faraó.

O assassinato de César em março de 44 a.C. fragilizou a posição de Cleópatra e a soberania do Egito. Se seguiu uma guerra civil, onde o Triunvirato de Otaviano, Marco Antonio e Marco Emílio Lépido saiu vitorioso. A República foi provisoriamente repartida entre os três, ficando Antonio encarregado da administração das províncias orientais. Enquanto visitava suas novas possessões, Antonio encontrou-se com Cleópatra em Tarso, onde participaram de um grande banquete. Os dois passaram o inverno juntos, e o romance resultou em um par de gêmeos.

Já casado com a irmã de Otaviano, Otávia, e sentindo-se negligenciado por Roma quanto à sua campanha contra o Império Parta, Antonio partiu para o Egito em 37 a.C. em busca de suporte financeiro. Nesse momento, Otaviano expandia seu controle sobre a parte ocidental de Roma, forçando a aposentadoria de Lépido, assumindo seus domínios na África, e reforçando, com sua presença, seu favor diante do senado. Embora entre os dois não houvesse ainda uma ruptura política formal, parece que Antonio começou a se mover no sentido de fortalecer sua posição no oriente para fazer frente ao poder de Otaviano, apoiando-se no Egito.

Ele começou a distribuir províncias para os filhos de Cleópatra (Cesario e os seus). Em uma dessas medidas, em 34 a.C., ele também reconheceu Cesarion como filho legítimo e herdeiro de César. Além de receber como doação terras públicas, seu novo status oficial de "deus" e "filho de um deus" (porque César fora proclamado deus em 42 a.C.) irritou demais Roma. O senado vetou as doações e considerou um ultraje à dignidade do cidadão romano a deificação de um estrangeiro. Mas foi o reconhecimento de Cesarion como herdeiro de César que mais preocupou Otaviano, pois toda a sua popularidade derivava do testamento em que o general romano o tornava herdeiro por adoção. Um filho legítimo, mesmo fora do testamento, poderia ter mais apoio popular do que um adotivo (e que Antonio acusava de ter forjado os documentos da adoção).

Como o acordo do Triunvirato não seria renovado em 33 a.C., a guerra foi inevitável. Otaviano declarou guerra ao Egito (uma medida aceitável pelo senado, ao invés de declarar guerra contra outro romano), mas Antonio logo mobilizou o que pôde para defender Cleópatra e seus filhos. A enorme popularidade do jovem Otaviano, a despeito do prestígio de Antonio servindo ao lado de Julio César na gália, fez com que grande parte das tropas sob este desertassem em favor do rival. Após uma derrota naval em Actium em 30 a.C., Antonio voltou ao Egito e cometeu suicídio. Antes de fazer o mesmo, a rainha tentou negociar com Otaviano pela vida de Cesarion. Com o Egito conquistado, essa era uma questão que ainda o incomodava.

Cleópatra teria enviado Cesarion para a Índia, possivelmente anos antes, com soldados e tesouros. Mas quando estava para embarcar em um porto da Etiópia, teria sido convencido por um de seus guardiões a retornar a Alexandria, pois Otaviano o teria convidado a assumir o trono do Egito (Cesarion já tinha 17 anos). Segundo Plutarco, Cesarion retornou apenas para ser executado. "Dois Césares são demais", teria sido a resposta de Otaviano à súplica de Cleópatra.

Com a morte de Cesarion, Otaviano se tornou o único herdeiro legítimo de César disponível. Seguindo a conquista do Egito, Otaviano, no posto de cônsul, baixou uma série de decretos que mantinham uma aparência de república a Roma, mas que lhe atribuía poderes inigualáveis. Ele criou as fundações do Império Romano, do qual seria declarado imperador em 27 a.C.

Já o Egito caiu sob jugo romano, como ocorreu outras vezes no passado sob persas e macedônios (de cujo general Ptolomeu Cesarion descendia), mas mesmo os monarcas persas e macedônios seriam entronizados e reconhecidos pelo Egito como faraós das 27ª, 31ª, 32ª, e 33ª dinastias. Após cerca de 3200 anos, o Egito não existia mais como entidade política. Embora uma única lista tardia incluísse imperadores romanos na lista de reis do Egito até o século III d.C., Cesarion, conhecido também como Ptolomeu XV, foi o último faraó nativo.

Nenhum comentário:

Postar um comentário