quarta-feira, 10 de junho de 2015

A morte de Alexandre, o Grande

O dia 10 de junho (mas possivelmente no dia 11) de 323 é a data de falecimento de Alexandre III, rei da Macedônia, conhecido na posteridade como Alexandre, o Grande, pouco mais de um mês antes de completar 33 anos de idade.

Alexandre, filho do competente Filipe II da Macedônia, foi um rolo compressor que conquistou e unificou em torno de si, pela força ou pela persuasão, as cidades-estado, ligas e alianças regionais da Grécia continental e insular (Esparta se recusou a fazer parte e foi deixada em paz), além de conquistar a Trácia, grande parte da atual Bulgária, historicamente fora do mundo grego propriamente dito. Em seguida, partiu com 40 mil soldados e 120 navios em direção às cidades helênicas sob domínio persa na Ásia, com vitórias decisivas contra os exércitos de Dario III em Granicus e Issus. Conquistou a inexpugnável cidade fenícia de Tiro. "Libertou" o Egito, onde foi coroado faraó. Avançou em direção ao coração da Pérsia, derrotando definitivamente Dario em Gaugamela, perto do Rio Tigre. Foi coroado rei e libertador na Babilônia. Enfrentou focos de resistência persa aqui e acolá enquanto tomava cidades, fundava outras, e marcava seu território pelo interior da Ásia. Expandiu seu domínio até as proximidades de Fergana, na fronteira com a China. Atravessou o rio Indo, onde foi finalmente rechaçado pelo rei Porus. Depois de enfrentar dissenções entre os soldados cansados da guerra, finalmente marchou de volta pelo sul, alcançando a Babilônia, onde morreu. Tudo isso em apenas 11 anos.

A causa da morte de Alexandre segue em mistério. As fontes antigas concordam que ocorreu de 10 a 15 dias após uma bebedeira, pouco tempo depois da morte de Hefestion, seu amante. Alguns insinuaram que ele tivesse sido envenenado. Outros, que tenha contraído alguma doença (o quadro descrito por Plutarco, por exemplo, sugere meningite). O fato é que Alexandre morreu sem herdeiros (seu filho com a princesa bactriana Roxana ainda não havia nascido). Seu testamento incluía exigências como a conquista da Arábia, a circunavegação da África, e a promoção do deslocamento de populações asiáticas para a Europa e vice-versa, visando o seu enriquecimento cultural e fortalecimento de laços de amizade (ideia que os gregos detestavam), e por isso, segundo o historiador Diodoro Sículo, teria sido descartado entre os altos comandantes alexandrinos. No seu leito de morte, eles teriam perguntado ao rei quem deveria governar no seu lugar, ao que ele teria respondido "o mais forte". Já outros alegam que Alexandre estava incapacitado de falar perto da morte; ele teria, num último gesto, passado seu anel a seu segurança Perdicas.

Perdicas defendia que todos deveriam esperar o nascimento do filho de Roxana, do qual ele e outros companheiros próximos de Alexandre seriam seus guardiões. Meleagro, comandante da infantaria, defendia que Filipe, meio-irmão de Alexandre, deveria ser o herdeiro. Os dois partidos entraram em acordo, e eventualmente Alexandre IV e Filipe III foram apontados reis. Contudo, como um era um bebê e o outro um nobre pouco reconhecido entre os militares, possivelmente com problemas mentais (embora Alexandre tivesse muito apreço por ele), este equilíbrio de forças foi capaz de evitar uma guerra civil apenas até o assassinato de Perdicas, o guardião do bebê e regente. Então, vários generais, cada um encastelado em uma parte do império, começaram a guerrear entre si.

O vasto império alexandrino foi, por fim, dividido em quatro partes leais a cada um dos seus companheiros: o Egito sob controle de Ptolomeu I, a Ásia Menor e a Trácia sob Lisímaco, Macedônia e Grécia sob Cassandro, e a maior parte da Ásia sob Seleuco. Embora desses, Ptolomeu e Seleuco tenham conseguido estabilizar seus territórios e governar com eficiência grandes porções de terras, nenhum dos reinos nascidos do império de Alexandre resistiria ao avanço de Roma, no oeste, e da Pártia, no leste. No ano 30 a.C., a última soberana descendente dos herdeiros de Alexandre, Cleópatra VII, cujo poder no Egito já dependia da boa vontade de Roma, cometeu suicídio.

A efemeridade do império de Alexandre contrasta com a permanência do seu legado em diferentes formas. Muitas cidades, algumas habitadas até hoje (Alexandria, no Egito, Iskenderun, na Turquia, e Kandahar, no Afeganistão, por exemplo), foram por ele fundadas para que seus soldados pudessem se estabelecer se assim quisessem. Até hoje, várias comunidades nos vales do Afeganistão traçam sua ancestralidade a soldados macedônios que ficaram para trás. A cidade de Tiro, que no momento da sua conquista era uma ilha inexpugnável, passou a ser permanentemente ligada ao continente por um istmo artificial de terra e entulho construído pelos homens de Alexandre para alcançá-la, e sobre o qual a moderna Tiro está assentada. A imagem e o símbolo de Alexandre como o conquistador do mundo que morreu jovem, com a coroa de louros, reproduzida em moedas, altos relevos e estátuas, passou a ser a inspiração para futuros imperadores - os cristãos dos primeiros séculos, antes de definirem Jesus como um homem branco com barba e cabelo comprido, usavam a efígie de Alexandre para representá-lo. A vastidão do seu império, e de seus herdeiros, proporcionou ao helenismo - o modo de vida grego, com sua filosofia, sua religião, sua arte, sua língua, suas técnicas - circulassem pela Ásia e influenciassem enormemente o novo mundo desfraldado para os gregos. A filosofia grega também influenciou de maneira indelével o hinduísmo e o budismo na Índia.

Diz-se que quando Julio César, ao se perceber com 32 anos como mero questor na Espanha, teria chorado diante de uma estátua de Alexandre, em Cádiz, ao perceber que, naquela idade, Alexandre já havia conquistado o mundo.

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