quarta-feira, 27 de maio de 2015

Fogo debaixo da terra

Em 27 de maio de 1962, o carvão de uma mina sob a cidade americana de Centralia começou a pegar fogo. Ninguém tem certeza de como o incêndio se propagou, mas ele arde na cidade desde que um monte de lixo foi incendiado, e o fogo atingiu os veios de carvão mineral nos túneis de minas abandonadas sob o solo.

A cidade se preparava para as comemorações do Memorial Day, e uma das ações da prefeitura foi limpar os aterros irregulares e depositar todo o lixo em uma área de mineração na superfície abandonada desde 1935, criar um aterro lá, e botar fogo em tudo. Esse procedimento era ilegal, e não constava nos autos do conselho municipal, mas foi o que aconteceu.

Naquele dia, 5 voluntários do corpo de bombeiros local foram designados para supervisionar o fogo, usando água para controlar a fumaça e assegurar que ele não se espalharia pelas redondezas, caso atingisse algum veio de carvão mineral exposto por acaso. Isso era previsto, tanto que uma lei estadual proibia aterros sanitários sobre minas superficiais de carvão. No dia 29, quando o fogo já deveria ter se extinguido, chamas ainda eram observadas no local, novamente controladas. Na semana seguinte, o fogo voltou a arder no mesmo lugar, e fumaça era detectada em outros pontos da cidade, enquanto a prefeitura continuava despejando lixo no aterro. Os bombeiros então revolveram os detritos para tentar localizar algum foco de incêndio entre as camadas de lixo, quando descobriram uma fenda de mais de 4 metros de largura no chão e alguns metros de profundidade. Essa abertura dava acesso às antigas minas sob a cidade, e por ela as chamas na superfície teriam atingido os antigos depósitos de carvão.

Técnicos compareceram ao local e detectaram presença de monóxido de carbono na fumaça do aterro, indicando que o fogo havia se espalhado pelos veios de carvão. No entanto, a causa do incêndio foi ocultada pelas autoridades, por causa das irregularidades cometidas no processo. Enquanto se decidia o que fazer, técnicos continuavam as medições de monóxido de carbono, e no dia 9 de agosto, foram detectadas concentrações letais, e todas as minas ativas da região foram evacuadas.

Ficou decidido que uma escavadeira retiraria terra 60 metros além do perímetro do aterro para tentar isolar o incêndio. Na primeira escavada, o ar rico em oxigênio entrou pelo buraco e causou uma labareda, deixando claro que o fogo subterrâneo havia se espalhado por uma área maior do que o imaginado. A escavação continuou lentamente tentando cercar a área, mas não adiantaria nada.

Uma segunda tentativa incluiu o bombeamento de uma mistura de pedriscos e água nos túneis à frente do que se acreditava ser a direção e o limite do fogo naquele momento, mas o inverno impediu a operabilidade do projeto. Em abril do ano seguinte, fumaça emergia do solo a mais de 200 metros do aterro, na direção da rua principal de Centralia.

A vida continuou. O abandono das minas locais forçou a saída de algumas famílias em busca de emprego em outros lugares. Até que em 1979, o prefeito local, dono de um posto de gasolina, estava medindo o nível de combustível no seu reservatório, e achou que a vara usada estava muito quente. Ele mergulhou um termômetro e descobriu que a gasolina estava a 77ºC. Os cidadãos locais ficaram atentos. Quando, em 1981, um garoto caiu num buraco que se abriu no quintal de casa, e dese buraco emanava um vapor quente com doses letais de monóxido de carbono (o garoto foi salvo), ficou claro o perigo que a cidade corria. O governo americano interviu desapropriando as terras e indenizando as famílias. As construções desabitadas foram demolidas. O serviço postal americano cancelou o CEP de Centralia. A cidade vizinha de Byrnesville, ao sul, também foi afetada e abandonada.

O fogo no subsolo de Centralia continua ardendo até hoje numa área de 1,6 km², e ainda em expansão. O sinal da queima são emissões de fumaça tóxica em fissuras no solo espalhadas pela cidade. Na época do início do incêndio, viviam cerca de 1400 pessoas ali. Dez atualmente se recusam a abandonar o local e continuam vivendo ali nas 5 casas que não foram demolidas. Além delas, dos cemitérios, da igreja (localizada num morro afastado do incêndio), do edifício da prefeitura (onde os poucos moradores ainda se reúnem) e das ruas, só há mato. Estima-se que, no ritmo atual, o fogo continue queimando por pelo menos 250 anos. A cidade-fantasma fictícia de Silent Hill é baseada em Centralia.

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